quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Plano de Aula: Lírica, musicalidade, ritmo, relação de significados (EM)

Eis uma sugestão de aula para introduzir o conceito de lírica, com alunos do ensino médio. Se for o caso de aproveitar os textos para uma aula semelhante em outra série, sugiro que seja oitava, há que se concordar que os textos aqui sugeridos exigem certa maturidade do aluno.

Preparei para o primeiro ano, a fim de trabalhar ritmo e rima. O trabalho está divido em duas aulas.


Primeira aula:

Material necessário:
Folhas para os alunos contendo a letra da música Construção ou transparência e retroprojetor; aparelho de som e CD; quadro negro e giz.

Metodologia:
- Introduzir o conceito de lírica, lembro a etmologia da palavra (do grego, música)
- Introduzir a noção de ritmo e métrica, em linhas gerais, muito brevemente.
- Entregar aos alunos a letra de Construção, pedindo que, ao ouvir a música, observem como o ritmo interfere na interpretação da letra.
- Executar a música uma ou duas vezes, de acordo com o tempo disponível.
- Iniciar a discussão sobre a letra da música. Solicitar aos alunos que desejarem a exposição de suas observações sobre a música, quaisquer que sejam (sobre a letra, sobre o significado que for inferido etc.) É importante que, num primeiro momento, os alunos estejam livres para fazer os comentários, ainda que não estejam ligados à forma da poesia. É um momento de apreciação.
- Após a apreciação, orientar os alunos à questão da métrica e do ritmo. Reunir as impressões do alunos, apontando-as no quadro. Acrescentar outras observações importantes, tais como (vale lembrar que cada pessoa recebe a poesia de uma maneira diferenciada):
--- A última palavra do verso é sempre uma proparoxítona. Qual o efeito disso no ritmo?
--- O prolongamento das vogais, quando o coro canta os verso de Deus lhe pague provoca que efeito? E os metais (instrumentos de sopro)? Como esses efeitos (sensação de queda, barulho de buzina, de trânsito) interferem na nossa recepção da mensagem?
--- A repetição da mesma história, contada três vezes, mudando-se apenas a última palavra do verso, gera múltiplas interpretações do mesmo acontecimento (o operário que cai do alto de um prédio). Como foram interpretadas cada estrofe?

Segunda aula:

Material necessário:
Os mesmos, agora com a letra de Formato Mínimo.

Metodologia:
- Distribuir aos alunos a letra da música Formato Mínimo.
- Executar a música uma ou duas vezes.
- Abrir a discussão sobre a música, em quaisquer aspectos que os alunos desejem abordar. É provável que surja mais discussão sobre a mensagem, já que o tema (sexualidade) gera maior interesse entre os adolescentes.
- Caso nenhum aluno observe, destacar que o poeta se utilizou do mesmo recurso que Chico Buarque, colocando proparoxítonas no final dos versos, a fim de inferir ritmo.
- Propor uma atividade de produção de texto:
Como em Construção, pedir aos alunos que contem novamente a mesma história, mudando apenas a última palavra de cada verso. Os alunos devem procurar utilizar as mesmas proparoxítonas do texto original ao máximo, mas novas podem ser incluídas caso seja mais propício. O cuidado com a ritmica deve estar aliado ao significado do texto.

Letras das Músicas:

Construção (Deus lhe Pague)
- Autor: Chico Buarque de Holanda
Artista: Chico Buarque de Holanda (1971, faixa do álbum Construção)

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou prá descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçouComo se fosse um náufrago
Dançou e gargalhouComo se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou prá descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou prá descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão prá comer
Por esse chão prá dormir
A certidão prá nascer
E a concessão prá sorrir
Por me deixar respirar
Por me deixar existir
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça
Que a gente tem que engolir
Pela fumaça desgraça
Que a gente tem que tossir
Pelo andaimes pingentes
Que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira
Prá nos louvar e cuspir
E pelas moscas bixeiras
A nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira
Que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague

Formato Mínimo
- Autores: Samuel Rosa - Rodrigo F. Leão
- Artista: Skank (2003, faixa do álbum Cosmotron)

Começou de súbito
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima

Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo

Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos, gozaram rápido

Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida

O medo redigiu-se ínfimo
E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela, o súdito
Desenhou-se a história trágica

Ele, enfim, dormiu apático
Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo, a vítima

Fugiu dali tão rápido
Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico

Para ele, uma transa típica
O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão, a rúbrica

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